domingo, 2 de janeiro de 2011

enquanto isso na sala do nunca...

aqui parado eu me movo
para dentro e por fora do meu avesso
eu me estremeço

a rua la fora, passa dentro do meu quarto
e eu aqui dentro, sou mais como lá fora na rua
ela passa por mim com integridade radiante
e eu fico parado, esperando...
espero até morrer

depois da morte, me refaço
me levanto e colhendo os pedaços
construo uma nova figura

atenta ao que já sucumbiu, minha alma florece
e por um tempo fica a radiar e atrair
até que a luz acaba
e só resta a escuridão, onde eu fico
na crueza estática do silêncio

aqui encontro e me paro
para o avesso do meu fora eu entro
e me reconheço

a Lua la fora brilha escondida pela chuva
e eu andando na chuva, sou a própria lua

ela molha minhas feridas com acidez urbana
e eu desamparado, fico triste...
entristeço até dormir

depois que acordo me rebato
me levanto e carrego os meus passos
invento um novo caminho

atenta à flor que sucumbe, minha mente enlouquece
e por um tempo fica a procurar requisitante
até que o corpo fala
e então, sem pesar, eu vou
na fantasia dinâmica do barulho

segunda-feira, 15 de junho de 2009

chove na cidade que para de chorar
pela insensivel rede de ambiçoes
onde todos buscam razoes para buscar
desde que alguem lhes confie algum lugar

que nos traz de presente o excesso parcelado
para um coraçao que ja nasce disparado

rezam os que pensam serem livres de mentir
todos temos alguma coisa a esconder
rezam os que pensam serem livres do pecado
todos temos chance de errar

domingo, 14 de dezembro de 2008

1

Uma caneta...
Ai meu deus...putz...
Hehe... eu preciso anotar isso...será que essa mulher aqui do lado tem uma? Tem q ser logo porque acabei de ver o meu ônibus atravessando do outro lado pra fazer o retorno, logo ele estará aqui.
Acho que ela não vai ter porque ela não tem cara de quem tem uma caneta assim fácil no bolso ou não mão. E a bolsa dela parece não ter tbm..
-Tudo que eu preciso agora é...
Uma boa frase. Um bom título...
Putz... o busão tá vindo. Droga...
Chegou...hehe.
Bem, tenho que ir. Lá dentro algum passageiro deve ter uma.
Então eu subo no busão olho pro motorista enquanto subo a escada, noto que o cobrador é uma mulher e aí...
Há, que lindo...não tem ninguém... parece filme.
Qual a chance disso acontecer? Tudo bem que acabou de sair do ponto final, mas ele já passou por 3 ou quatro pontos antes desse. E nenhum passageiro embarcou. Muito menos um que pudesse me arrumar uma caneta.
Hmm, a cobradora. Hehe...
Eu dou um sorriso pra ela. Ela parece não entender, dá uma disfarçada. É claro...quem é que costuma sorrir pra um cobrador assim? Talvez uma criança, ou alguém simpático demais. Mas não um barbudo serio e mal encarado como eu.
-Você tem uma caneta pra me emprestar?
-Caneta?
-É.... por favor...
-Toma. - Ela me da a caneta com um sorriso, talvez finalmente entendendo o meu propósito e então podendo ficar mais tranqüila. Ela volta pro seu estado confortável de cobradora, se ajeitando na cadeira de uma maneira que parece ser a melhor forma de se permanecer naquele lugar todos os dias. Voltou o olhar para o parabrisa do motorista, afim de acompanhar o trajeto que provavelmente já se fartou muitas vezes de olhar.
Eu me apoiei numa daquelas barras pra pegar um papel qualquer no bolso e escrever a bemdita frase.
Tudo que eu preciso agora é...
1- uma caneta.
Pronto, depois eu termino em casa.
Devolvi a caneta e passei a catraca.
Me sentei na satisfação garantida de um assento vago em um busão vazio.
E comecei a pensar na Srta. D. Ela me incentivou a fazer coisas assim.
Aí comecei a pensar... que tudo que eu sinceramente preciso agora, na verdade é de um espelho.

Mas aquilo foi antes. Agora não estou mais lá.
Eu estou aqui em casa escrevendo esta história como tinha pensado. Como me lembro dela. Ou como quero me lembrar.
E por sinal não a escrevo com uma caneta, e sim com teclas. Sabe...
Pode ser a primeira coisa que se diz que se precisa de uma caneta pra escrever escrita por teclas, já pensada para a internet no mundo.
Mundo este que aliás está no final de 2008. Com todos seus rebuliços e apetrechos.
Mas ai de quem pensar que as canetas serão abolidas.
Mesmo não precisando do recado que escrevi naquele busão agora....
Sem ela eu não estaria aqui escrevendo.
E você, estaria lendo outra coisa.